G1: Veja histórias de mulheres de sucesso que ocupam cargos ‘masculinos’
Sensibilidade é um dos segredos usados por elas para obter destaque.
Escolas de samba campeãs no Rio e em SP são dirigidas por mulheres.
Do G1, em São Paulo
08/03/09 – 10h07 – Atualizado em 08/03/09 – 12h18
Seja na liderança de grandes empresas, instituições educacionais ou movimentos sociais, não é de hoje que as mulheres têm ganhado espaço no mercado de trabalho. Em cargos tradicionalmente ocupados por homens, elas aprenderam a lidar com o preconceito e aproveitam características peculiares, como a sensibilidade, para se destacar.
Esse é o caso das presidentes das escolas de samba campeãs do carnaval 2009 de São Paulo, Mocidade Alegre, e do Rio de Janeiro, Salgueiro. No comando da Mocidade, Solange Bichara, 43 anos, acredita que a sensibilidade feminina foi uma grande aliada para o campeonato deste ano.
“As mulheres têm um toque que são sempre um diferencial, principalmente em uma escola como a Mocidade, que é guiada pela emoção”, disse ao G1. Solange, que está à frente da escola desde 2003, conta que sempre teve o apoio da família e nunca sofreu preconceito por ser mulher. Seu pai, tios e irmãos foram fundadores da Mocidade. Solange provou sua força ao assumir a presidência depois da morte da irmã e enfrentar, no último 3 de março, o falecimento do tio Juarez Cruz, presidente de honra da escola.
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Presidente da escola campeã do carnaval do Rio, Regina Duran foi eleita a pedido da comunidade (Foto: Divulgação/Acadêmicos do Salgueiro )
Já Regina Duran, presidente do Salgueiro, está no cargo desde junho de 2008 e assumiu a presidência atendendo a pedidos de componentes da escola. Segundo contou ao G1, Regina, que tem 42 anos e quatro filhos, nunca sofreu preconceito, mas afirma que a presidência da escola só havia sido ocupada por uma mulher entre 1987 e 1988, por Elizabeth Nunes. Desde então, a escola esteve sempre sob o comando de homens.
”Conquistei a confiança e o respeito dos que trabalham comigo naturalmente. Sempre respeitei a todos, igualmente. Tenho por lema ‘cada um no seu quadrado’. Respeitando o espaço de cada um é possível conviver em harmonia. É imprescindível respeitar a individualidade do outro”, afirma.
Encorajando jovens mulheres
Eleita presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em julho de 2007, a estudante de jornalismo Lúcia Stumpf, 27 anos, permanece no cargo até julho deste ano, mas acredita que fez mais do que lutar pelos interesses estudantis. Para Lúcia, sua posição encoraja jovens mulheres que também querem fazer parte de ações sociais.
Lúcia Stumpf, presidente da UNE, é a quarta mulher a ocupar o cargo (Foto: Ascom/UNE)
“Esse é o maior desafio, com certeza: servir de exemplo para que milhares de meninas que também querem fazer movimento estudantil se sintam encorajadas. Muitas desistem de disputar espaços de liderança por que se sentem expostas. Sem contar na reação das famílias que as desestimulam, seja por preconceito ou por proteção. Não é tarefa fácil tirar as mulheres dos espaços domésticos e colocá-las em pé de igualdade com os homens nos espaços de disputa de poder”, diz.
Lúcia foi a quarta mulher eleita para presidir a UNE. Antes dela, a última mulher presidente da entidade foi Patrícia de Angelis, que encerrou seu mandato em 1991. “No ato de minha eleição, fazia 16 anos que a UNE não elegia uma mulher para a presidência. Mais grave do que o intervalo de tempo que existiu entre duas mulheres é notar que fomos apenas quatro as presidentes em 72 anos de história”, disse ao G1.
A estudante conta que já sofreu preconceito por ocupar uma posição de destaque sendo mulher. “Acontece muito de nós, mulheres dirigentes, ao estarmos passando em sala de aula para discutir com os alunos, ou em um carro de som conduzindo uma assembléia ou passeata, sermos obrigadas a ouvir cantadas ou gracejos. Isso inibe, constrange, faz a mulher sentir-se tratada como objeto”, diz, ao afirmar que foi questionada sobre mudanças nos critérios para eleger o presidente da UNE. Segundo ela, perguntaram se era necessário levar em conta aspectos estéticos e não mais políticos.
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Empresária Lucília Diniz diz que a vida começou aos 40 (Foto: Divulgação)
Beleza e competência
Aos 52 anos e esbanjando energia, a empresária Lucília Diniz garante que a cultura do trabalho é uma herança de família. Dona da empresa de alimentos saudáveis Goodlight, Lucília conta que, para ela, a vida começou aos 40, mais especificamente em 1999, quando perdeu os quilinhos a mais e transformou a mudança física em fonte de trabalho.
“Antes trabalhava com gado, e por muitos anos essa foi minha ocupação principal. Mas quando finalmente decidi mudar a vida que eu levava, desenvolvi o meu método de perder peso e viver de maneira light. Comecei como autodidata, fazendo experiências na cozinha e passava horas pesquisando livros, criando receitas, inventando formas de tornar a cozinha light mais gostosa. A partir dessas experiências, em 2001, criei o Sistema Goodlight, minha linha de produtos saudáveis, e escrevi sete livros para dividir minha história e inspirar outras pessoas”, conta.
Em sua trajetória, a empresária conta não ter sofrido preconceito, mas dá uma dica às mulheres que não se sentem encorajadas a mudar de vida: “A mudança que proponho e pratiquei está relacionada a uma mudança de estilo de vida. Em primeiro lugar, é importante investir em você, se cuidar, descobrir as atividades que te dão prazer, e olhar para si mesma, pensar na mulher que você gostaria de ser e colocar isso em prática”, afirma.
“Sou uma pessoa realizada. Acredito que as dificuldades sejam as mesmas para todos. O importante é não ter medo e nem se sentir insegura. Com garra e competência, as dificuldades só nos fazem crescer. Quando é possível, corrigimos o que está errado. Caso contrário, adequamo-nos às nossas metas. Esse é o segredo”, diz a empresária.